domingo, 9 de janeiro de 2011

Casa sai de uma mostra de arquitetura para o terreno à beira-mar

A rotina agitada atual sugere abrir mão de áreas supérfluas e estáticas em nome de ambientes compactos e versáteis. Exatamente o que fez o arquiteto paranaense Abreu Jr. ao desenhar esta casa. Curador de uma mostra de arquitetura em Florianópolis, onde mora há duas décadas, ele lançou uma pergunta a si mesmo e aos demais participantes do evento, realizado dois anos atrás: “De quanto espaço uma pessoa realmente precisa para viver com conforto?” Somando sala de estar/quarto (reunidos num mesmo local), cozinha, banheiro e home office, Abreu concluiu que 50 m² eram suficientes e deu forma a um protótipo multifuncional de aço, madeira e vidro. Mais tarde, comprovou a viabilidade da aposta: após o encerramento da exposição, levou a moradia da ficção para o mundo real, onde a adotou como seu refúgio de fim de semana. Satisfeito, ele não sente falta de um metro sequer a mais.

O conceito de espaço flexível foi levado a sério: veja como a sala de estar se modifica conforme o Sol se põe. Durante o dia dois pufes fazem as vezes de sofá. Outro exemplo de dupla função reside na mesa de refeições, transformada em bancada de trabalho.

A opção por uma estrutura desmontável excluiu a alvenaria. No cubo de 3 x 3 m reúne home theater. Nos pontos por onde passam fios e canos, elas são duplas, com 5 cm entre as chapas.

Numa mesma peça, as paredes são painéis de MDF com 20 mm de espessura e revestimento melamínico (Móveis Vogue).

Vidros temperados 20 mm (Personal Glass) fecham a construção. Cada um mede 0,50 x 2,10 m, embora o projeto previsse peças com 2,50 m de altura, medida do pé-direito. “O fornecedor não garantia a integridade de chapas tão grandes”, explica o arquiteto, que usou uma cinta metálica de 40 cm para preencher o vão até o teto. Um sistema especial de ferragens permite recolher e alinhar os painéis de um lado só. O transporte exige embalá-los um a um com plástico bolha e enfileirá-los – empilhados, eles poderiam quebrar

À noite, os estofados são dispostos lado a lado e compõem uma cama. Quando vira quarto o ambiente conquista privacidade com persianas vinílicas do tipo rolô, fechadas por controle remoto (Luxaflex, fornecidas pela Carlos Machado).

O conceito de espaço flexível foi levado a sério: veja como a sala de estar se modifica conforme o Sol se põe. Durante o dia dois pufes fazem as vezes de sofá. Outro exemplo de dupla função reside na mesa de refeições, transformada em bancada de trabalho.

Na mostra, a casa ficava 1 m acima do solo, medida elevada para 2,50 m no litoral. Sem essa extensão, não seria possível ver o mar, por isso os pilares de aço foram apoiados em bases de concreto.
A estrutura metálica resiste à maresia graças a uma tinta especial usada no casco de navios (Inter Coatings). Brises de pínus autoclavado (Ecopine) amenizam a claridade excessiva.

A versão executada para o evento consumiu 30 dias, prazo duplicado na montagem posterior. Contribuíram para isso a preparação das fundações (sapatas isoladas de concreto), a pintura de pilares e vigas e as chuvas do período.
A estrutura metálica, que havia sido cortada nos pontos de solda, teve a ligação refeita e recebeu a cobertura (um sanduíche de alumínio e poliuretano, da Thermocolor). Depois, bastou envidraçar as laterais e aprontar o interior.


Com a suspensão da estrutura 2,50 m acima do terreno, sobrou espaço para uma garagem no subsolo. A caixa-d’água, com capacidade para 1 000 litros, fica acima do cubo que centraliza as instalações hidráulicas. Maleável, a área interna é ora compacta, ora ampla, conforme a abertura dos painéis envidraçados que a conecta ao exterior.


Uma passarela também de pínus autoclavado (Madeireira Florianópolis) atravessa a restinga e vence os 100 m de distância até a beira da praia. Quando a pedida é fazer do mar apenas cartão-postal para admirar no horizonte, vale usar a varanda como área de descanso – deitado na espreguiçadeira ou imerso no ofurô.